Olá! Quem te escreve é a
, da newsletter . No finalzinho do ano passado, organizamos “O Texto e o Tempo”, um evento da comunidade de newsletters com pegada mais literária - ou seja, textos online com projeto artístico, que existem porque sim.Passados alguns meses, decidimos usar esse espaço para compartilhar alguns pensamentos sobre o formato e, quem sabe, ajudar o pessoal que está começando. A pergunta que guia essa primeira edição é: como formar um público leitor para a sua newsletter? Escrever na internet pode ser como deixar um presente em via pública e esperar que ele encontre uma pessoa receptiva. O presente - que você fez manualmente, com os retalhos dos seus interesses e inquietações - continua sendo bacana mesmo se ninguém o encontrar. Mas é tão bom quando alguém encontra, não?
De forma pessoal e idiossincrática, escolhi algumas escritoras com diferentes projetos e experiências para refletirem sobre a pergunta. No fim, compartilho o que funcionou para mim.
escreveEu comecei a escrever regularmente na internet em 2016 - são 7 anos já fazendo isso. A newsletter começou em 2017, porque percebi que era uma forma de distribuir o que eu fazia sem depender tanto das redes sociais. Eu passei muitos anos sem nenhuma rede - tive um problema sério de assédio masculino anos atrás, e havia optado por desativar tudo para contornar a questão. Também só fui ter um smartphone em 2017. Daí pensar em uma distribuição alternativa era uma parte importante do que eu sentia que precisava fazer.
Acho que tem duas coisas que fizeram crescer meus leitores. A primeira delas é consistência. Eu vejo muita gente se apegando a periodicidades curtas como uma tentativa de não ser esquecido ou engolido pelo algoritmo, mas eu acho que muito mais importante do que uma periodicidade que você faz pensando no outro é a sua consistência. Estar sempre lá, não importa se com mais espaçamento ou menos, mas estar lá, dentro da sua proposta. E eu só posso estar lá com sinceridade se o ritmo é confortável para mim. A segunda coisa é ser encontrada pelas pessoas certas, aquelas para as quais o que você faz realmente ressoa, e que são generosas o suficiente para te incluir na rede de recomendações delas. E do mesmo jeito que eu fui incluída em algumas, eu gosto de incluir pessoas que ressoam para mim para que elas também ganhem espaço.
Não tenho uma estratégia de crescimento no momento. Eu prezo mais por manter a rede que eu construí do que aumentar, prezo mais pelo meu conforto com o volume de trabalho do que por métricas. Não costumo evitar temas - embora alguns que considero mais delicados (para o público, mas também para mim mesma) eu procure jeitos inovadores de tentar abordar. Tenho a sensação de que quanto mais eu escrevo sobre algo que sinceramente estou prestando muita atenção ou interessada, melhores costumam ser as respostas porque meu olhar fica afiado. Acho que se eu estivesse começando hoje deixaria um bilhete para mim mesma dizendo: esse trabalho é maratona, não uma corrida de 100m. Leva tempo. Quanto menos gente te olhando, mais fácil é experimentar. Se divirta com o que você está fazendo.
escreveOs manuais de marketing digital já dão o passo a passo completo: defina o seu nicho e seu público-alvo, crie uma persona, pesquise no Google os assuntos que mais interessam a este grupo de pessoas, monte um calendário editorial com os termos mais buscados e uma estratégia de divulgação nas redes sociais e pronto. O público virá. No entanto, quando criei a minha newsletter, não queria definir nicho algum para não ficar presa a um tema ou outro. Minha proposta era (e continua sendo) escrever crônicas sobre o meu dia-a-dia, embaladas pelas minhas leituras favoritas. Então a minha estratégia foi mais mística: acender uma vela para que a inspiração encontrasse leitores dispostos - e que os convidasse a compartilhar com todos os amigos. Comecei divulgando a newsletter para família e amigos e aos poucos, ela foi crescendo assim - no boca a boca. Claro, a consistência ajuda muito, assim como a ferramenta de referências do próprio Substack. Outro fator que ajudou muito foi a criação de uma comunidade de escritoras de newsletter. Aos poucos, a newsletter vai tomando uma cara que só poderia ser a minha. E o mais legal: novos leitores continuam a chegar.
escreveComecei a newsletter no meu aniversário de 30 anos e a ideia era compartilhar com os amigos as leituras mais bacanas que eu vinha fazendo. Então, minha lista inicial tinha por volta de 10 pessoas - leitores íntimos e parciais. Depois de algumas edições, passei a contar o que estava fazendo no Instagram. Foi lá que encontrei boa parte dos novos assinantes e a dinâmica permaneceu assim até que migrei de plataforma, do Tinyletter para o Substack. Com todas as ferramentas de comunidade, senti no Substack um crescimento muito muito muito rápido. Em julho de 2021, quando saí do Tinyletter, a newsletter tinha pouco mais de mil assinantes -- arrebanhados desde 2016. Agora, em menos de dois anos de Substack, estou a um passo de chegar aos 5 mil assinantes. Coloco isso na conta do Substack, mas não só. Nos últimos anos me dediquei bastante aos textos que escrevo. Tenho me colocado mais em cada edição e algumas partilhas são quase confissões. Além disso, faço questão de cultivar as conexões com os leitores: respondo todos os comentários e tento ler o trabalho daqueles que também escrevem na internet -- e sempre que esbarro em algo bacana, faço questão de divulgar. Essa é a forma que acredito ser mais efetiva, uma mistura de dedicação e retribuição. Não sou do time que bola estratégias de crescimento, nem mesmo metas concretas. Morro de medo de ser cooptada por fórmulas, de perder de vista o prazer que tenho com o projeto da newsletter. Acredito fortemente que para funcionar e crescer, o processo precisa PRIMEIRO funcionar a meu favor.
escreveTenho a Flows Magazine há um ano e oito meses e ela começou com nenhuma pretensão, eu só queria escrever pra mim. Eu tinha zero base de leitores. De início, compartilhei com amigos e outras pessoas que liam meu antigo blog. Divulguei muito pouco e fiz todo o contrário das melhores práticas, abafa.
O que mais me ajudou hoje e sempre, a respeito de crescimento, é o boca a boca. A indicação da FlowsMag por outras newsletters foi especialmente poderosa. A base de leitores foi construída de forma bastante relacional no meu caso. Pode ser uma dica para quem está começando - mencionar news para ser mencionado e ser atuante no substack, comentando e recomendando outras publicações.
Para conhecer melhor o público, fiz uma pesquisa recente e tive mais de uma centena de respostas sobre os temas que preferem, como chegaram até a news, sugestões do que gostariam, critérios para assinar de forma paga e alguns insights - cerca de 70% dos leitores chegaram por recomendações. Bingo.
Sobre estratégias, não penso nisso nem foco em números, por mais que eu fique orgulhosa e surpresa com eles. No geral meus temas são aleatórios, assuntos do momento que me despertam a vontade de escrever, por mais que eu tenha algumas linhas constantes. Tento evitar pautas batidas, caso eu não tenha nada de novo para falar sobre. Também não escrevo sobre o que está em alta se não me interessa, só pelo clique. Me importo com o público no sentido de produzir algo relevante, que entretenha com qualidade e respeite o tempo do leitor, mas não sinto cobranças ou barreiras. Os flowsers são maravilhosos e tem sido uma jornada excelente, me conectar com as pessoas apenas através da minha escrita.
escreveOs primeiros leitores que todo mundo tem são os familiares e amigos mais próximos, o que é super importante porque é com os nossos afetos mais próximos que construímos a base da autoestima necessária para trilhar esse caminho longo da escrita. Porém, muita gente empaca nesse limiar porque acredita que precisa ser encontrado por alguém "de fora", ou alguém "grande", para ter validação, mas a verdade é que todo mundo com uma base boa de público leitor já circulou por algumas comunidades de autores antes. Então eu diria para alguém que está formando público que é essencial entrar em contato com outras pessoas através de grupos, redes sociais, listas de emails, fóruns etc. Fazer cursos de escrita também é um caminho interessante, embora a pessoa vá praticamente entrar em contato só com outros escritores, trocar figurinha e se tornar minimamente conhecido entre iguais é essencial. Inclusive porque um endossa o outro. Podemos criar intersecções de leitores e isso é super saudável. É importante estar entre a "nossa gente". Às vezes as pessoas se preocupam com uma possível competição por popularidade e atenção, mas eu sempre penso que, a menos que você dê conta da demanda de leitura do mundo inteiro sozinho, você não só se beneficia de ter colegas escritores sendo lidos pelos seus leitores, como você precisa deles para formar uma comunidade de leitores também. Acho que minha dica é essa: circule, converse com as pessoas. E o mais importante: escute. Acolha os colegas e seja sempre gentil. Você nunca sabe o que a outra pessoa está passando.
A newsletter começou a ganhar novos leitores sem querer. Acho que eu nem saberia como elaborar uma estratégia de crescimento ou cultivo de leitores, se estivesse tentando de forma deliberada. Não tenho presença relevante em mídias sociais. Por vários meses, eu escrevia apenas para algumas dezenas de amigos e conhecidos - o que não é ruim, porque no começo da newsletter eu também não sabia direito o que estava fazendo! Olhando em retrospecto, acho que o que acabou dando certo foi me engajar de verdade com o trabalho de outros escritores que publicam online. Durante o auge da pandemia, achei interlocutores interessantes nos cursos de literatura do
. Depois, encontrei uma comunidade engajada entre os apoiadores da . De ambos esses espaços, conheci algumas das mulheres que listo nesta edição, e passei a acompanhá-las e interagir com o seu trabalho. O primeiro empurrãozinho para fora do meu círculo de amigos veio dessas pessoas, por quem sou muito grata.
Aprendi que não se promete texto que nem começou a ser escrito, sob o risco de travar completamente. Mas essa é a natureza dos conselhos: não precisamos seguir nem os nossos. De modo que prometo que teremos aqui mais textos sobre a newsletter como formato, na voz de diversos autores.
Tem alguma sugestão para as próximas edições? Deixe nos comentários:
Altas lições, até salvei p ler de novo. Mas isso aqui falou alto: "Acredito fortemente que para funcionar e crescer, o processo precisa PRIMEIRO funcionar a meu favor."
Oi Ariela, adorei isso! Muito interessantes as respostas. Acho que, como sugestão para futuras edições, pra mim sinceramente fica a vontade de ter algum tipo de mentoria, pq eu faço quase tudo que está nas sugestões dessa edição, por exemplo, recebo elogios e retornos lindos dos leitores, mas ainda tenho "só" 300 inscritos, escrevendo desde 2019. Faço tudo o que faz sentido pra mim, mas não vejo esse crescimento exponencial que algumas pessoas relatam. Sinto que tem algo que eu to fazendo de muito errado, mas que ficou num ponto cego, eu não faço ideia do que seja. beijos!